A força dos servidores municipais nas urnas e a necessidade de mudança
Por Iraídes Baptistoni
Presidenta do SISMMAR
O resultado das eleições para prefeito de Maringá requer uma leitura aprofundada do ponto de vista do SISMMAR, que é o representante legítimo dos servidores municipais. Nas urnas, o vereador Ulisses Maia (PDT) obteve 118.635 votos (58,88% dos votos válidos) e o ex-prefeito Silvio Barros (PP) somou 82.868 votos (41,12%) – uma vitória com a surpreendente vantagem de 35.767 votos. Para o servidor, Ulisses e Silvio representavam caminhos totalmente distintos. Consciente disso, a categoria foi às urnas para fazer valer a sua escolha.
Por isso, o dia 30 de outubro de 2016 ficará marcado como o dia em que o servidor (a) municipal mostrou sua força e revelou sua enorme indignação com o grupo político que está no poder há 12 anos. Não daria para suportar um novo mandato de desrespeito com os trabalhadores de carreira e de valorização apenas das mais de quatro centenas de cargos comissionados (CCs). O risco da perpetuação do 11 no poder era alarmante, e os servidores perceberam isso.
Mesmo no ano de eleições, e inclusive durante a campanha, o posicionamento temerário do grupo comandado pela família Barros encheu de medo os servidores. São fatos tristes, que precisam ser relembrados para que aqueles que não são servidores compreendam o porquê da categoria ter abraçado massivamente a campanha de Ulisses Maia neste segundo turno. Era o medo contra a esperança, e o servidor escolheu a esperança de dias melhores.
GREVE. No ano de eleição, o prefeito Carlos Roberto Pupin (PP), ex-vice-prefeito de Silvio e representante da família Barros no poder, apresentou a proposta de 4% de reajuste nos salários dos servidores, diante de uma inflação de 11,08%. Pupin quis empobrecer os trabalhadores e obrigou a categoria a deflagrar greve. Derrotado pelo clamor de mais de 5 mil servidores, que conquistaram nas ruas o apoio da opinião pública, Pupin concedeu a inflação apenas de forma parcelada e mandou descontar os dias parados (descumprindo o acordo que encerrou a greve) como retaliação aos servidores que lutaram pela reposição da inflação. Se em um ano de eleição o grupo político teve a ousadia de tamanha falta de respeito, como seria após a eleição?
SABATINAS. Durante a campanha, o SISMMAR promoveu três encontros dos prefeituráveis com os servidores, criando um canal direto para que os candidatos revelassem suas propostas à categoria. Todos os oito candidatos foram convidados para a Audiência Pública da Guarda Municipal, para a Entrega da Plataforma dos Servidores e para a Sabatina no site do sindicato, mas apenas Silvio Barros faltou aos três eventos. Se nem durante a campanha o candidato se prestou a dirigir a palavra aos trabalhadores, como seria após ser eleito?
GESTÃO SINDICAL PARALELA. Depois de virar as costas aos eventos promovidos pelo SISMMAR no primeiro turno, e percebendo a real chance de derrota no segundo turno, Silvio Barros apresentou uma carta com 20 propostas à categoria. No item 16, e ex-prefeito prometeu manter o diálogo com os trabalhadores criando novos canais, ou seja, fazendo uma gestão sindical paralela e inconstitucional. Além de não valorizar e de perseguir os servidores de carreira, o ex-prefeito propôs um mecanismo para tentar acabar com o sindicato que é o representante legal da categoria. Se já não atendeu, quando prefeito, a demandas históricas dos servidores, por que haveria de atender qualquer pedido sem o sindicato para cobrá-lo?
TRIMESTRALIDADE. Na mesma carta aos servidores, Silvio Barros mentiu aos maringaenses ao dizer que foi o sindicato que não quis fazer o acordo para o pagamento da Trimestralidade. A verdade é que muitos servidores que têm esse direito morreram sem receber a Trimestralidade porque o grupo que está no poder sempre preferiu judicializar a questão para não ter de pagar a dívida. Essa mentira pode ter enganado alguns eleitores que não conhecem as demandas da categoria, mas não ludibriou os servidores municipais!
VALE-ALIMENTAÇÃO. Item presente na Plataforma dos Servidores, esse benefício é uma das reivindicações históricas dos trabalhadores da Prefeitura. À época em que Ulisses Maia era o presidente da Câmara, uma lei foi aprovada para conceder o vale-alimentação e os servidores da Câmara passaram a receber o benefício, mas os da Prefeitura não recebem até hoje porque a administração entrou na Justiça para não pagar. Se os servidor de Paiçandu tem direito a esse benefício, por que só na rica Maringá (das propagandas de superávit) isso é impossível? Os servidores, especialmente aquela maioria que ganha pouco, percebeu que sem a mudança esse reivindicação nunca seria realidade.
ASSÉDIO MORAL. Nas gestões Barros/Pupin, a pauta do SISMMAR pela criação de uma lei municipal que punisse os assediadores nunca foi levada a sério. Pelo contrário, ataques aos servidores de carreira sempre foram uma constante, que piorou muito durante a campanha eleitoral deste ano – em especial com a percepção de derrota do grupo do 11 no segundo turno. As perseguições e os constrangimentos foram os mais variados, e incluíram propaganda eleitoral de secretários durante o expediente. O SISMMAR, diariamente, recebia denúncias de dezenas de servidores. Isso indignou ainda mais os trabalhadores de carreira, constantemente constrangidos por CCs desesperados com o risco de perderem seus altos salários de comissionados. A resposta viria nas urnas.
ARROGÂNCIA. Cada novo ano do grupo do 11 no poder representava mais dificuldade de negociação da pauta dos servidores entre o SISMMAR e a Prefeitura. O prefeito Pupin, endossado pela família Barros, passou a se recusar a receber dirigentes sindicais. Na data-base deste ano, dirigentes do sindicato e um grupo de servidores precisaram fazer plantão na porta do Gabinete do prefeito e, ainda assim, levaram mais de 40 dias para serem atendidos. E isso só ocorreu depois que começaram a comer marmita na porta do Gabinete, o que despertou o interesse da imprensa pela causa e também de alguns vereadores – inclusive do prefeito eleito, Ulisses Maia, que se uniu ao marmitaço em defesa da categoria. Diante dos fatos, não havia a menor crença de que Silvio Barros iria promover o diálogo com os servidores por vias constitucionais (respeitando a liberdade sindical).
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Isso é só um resumo. A lista de desmando do grupo que está no poder e de desrespeito com os servidores é tão extensa e não caberia num livro. Acima estão listados apenas os principais fatos que elevaram na categoria a ânsia pela mudança e a rejeição ao grupo que está no poder há 12 anos.
Antes e durante a campanha, muitos servidores viram na figura de Ulisses Maia a possibilidade de pôr fim a esse ciclo de perseguições, de assédio moral e de desvalorização. Esse sentimento ganhou força e se multiplicou, enchendo de ânimo quase a totalidade dos servidores. E alguns dirigentes sindicais viram no 12 a possibilidade de reestabelecer o diálogo entre o SISMMAR e a administração.
Quase a totalidade da categoria – excetuando os FGs que, na figura de Silvio Barros, queriam manter seus benefícios – viu no 12 a chance de não precisar mais fazer greve pela reposição da inflação, de ter o vale-alimentação para poder dar mais dignidade a suas famílias, de não precisar mais comer marmita na porta do Gabinete do prefeito para ser ouvido. As crueldades eram muitas e variadas, a ponto de o servidor clamar por mudança e, em seu íntimo, pedir a Deus pelo 12 no lugar do 11. Só quem precisou de cesta básica para não passar dificuldade, por conta do injusto, ilegal e imoral desconto dos dias parados da greve deste ano sabe como é triste tamanha humilhação. Líderes da Igreja Católica, que ajudaram na campanha das cestas básicas, são testemunhas disso.
Fato é que quem manda bater não percebe o tamanho do sofrimento, mas quem apanha não se esquece jamais. Quando repentinamente, no segundo turno, diante da iminente derrota, Silvio Barros começou a apresentar propostas aos servidores, era tarde. A maior parte dos 50 mil votos (dos servidores e de seus familiares) já havia optado pela esperança, fazendo uso do direito mais sagrado do cidadão para mudar os rumos da história: o voto. E foram justamente os votos dos desprezados servidores de carreira que fizeram faltas a Silvio Barros e que deram importante contribuição para que Ulisses Maia, na condição de prefeito, ponha um fim na era de crueldade contra o servidor de carreira.
O sindicato, no papel de legítimo representante do servidor, cobrará o futuro prefeito às promessas feitas, na expectativa de que dias muito melhores estão por vir para os concursados, que estão na Prefeitura por mérito e não por vontade política.