Pesticidas matam também crianças entre um e quatro anos

Outra mostra das facilidades oferecidas à indústria do veneno: 74% das pesquisas acadêmicas com subvenção estatal a tratar do tema têm o objetivo de viabilizar cada vez mais o uso dos agrotóxicos. Dentre os 26% restantes, apenas 1% tratam de seus efeitos sobre a saúde dos trabalhadores e consumidores.

Larissa: agronegócio é responsável pelos adoecimentos e mortes. Foto de Roberto Parizotti
Larissa: agronegócio é responsável pelos adoecimentos e mortes. Foto de Roberto Parizotti

A própria estrutura do chamado agronegócio, estimulado pelos sucessivos governos e até pouco tempo aclamado como o herói da balança comercial brasileira, está profundamente ligado ao uso de agrotóxicos, lembrou a geógrafa Larissa Bombardi, professora da USP e que tem como projeto de pós-doutorado a elaboração de um atlas sobre os efeitos nocivos dos agrotóxicos.

A grande dimensão das plantações dedicadas a uma só cultura – soja ou cana, por exemplo – impede que a própria natureza acione seus mecanismos de combate às pragas. Do ponto de vista estritamente econômico, há outras razões.

Bebês entre os mortos

“Se o agronegócio fosse cuidar das grandes plantações através do trabalho humano, precisaria contratar muita gente, em mais de um turno, o que não interessa aos capitalistas”, disse Larissa, em resposta a uma pergunta da plateia.

Vêm do estudo que a pesquisadora vem preparando os números mais recentes sobre intoxicação e mortes por agrotóxicos notificados no Brasil. Um deles é particularmente assustador. Entre 2007 e 2013, 6% das mortes comprovadamente causadas pelos pesticidas foram de crianças entre um e quatro anos.

Um relato feito por José Vicente Felizardo, agricultor oriundo das plantações de tomate, dá uma explicação para esse drama. “Mães que trabalham no campo levam seus filhos juntos, porque não têm onde deixar. As crianças ficam dormindo na sombra, e quando passa o trator ou o avião espalhando o veneno, elas são contaminadas”, contou Felizardo, também dirigente da FAF-SP (Federação da Agricultura Familiar), filiada à CUT.

“Que futuro a gente terá se nossas crianças não tiverem saúde?”, perguntou Susana Prizendt, coordenadora da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos no estado de São Paulo. “E não haverá soluções individuais para escapar disso. Até a água mineral já tem acusado contaminação em testes de laboratório. Ninguém vai conseguir se proteger numa bolha. Isso não existe”, completou.

Agroecologia é a saída

Ciente de que o tema é difícil e aparentemente intransponível, Susana transmitiu uma mensagem de otimismo aos presentes. “A gente está leve. A gente sabe como sair desse enrosco, e a saída tem nome: agroecologia”.

Jasseir, da CUT, e Suzana, durante seminário em São Paulo. Foto de Roberto Parizotti
Jasseir, da CUT, e Suzana, durante seminário em São Paulo. Foto de Roberto Parizotti

Jasseir Fernandes, secretário nacional de Meio Ambiente da CUT e recém-eleito presidente da CUT-ES, foi na mesma linha. “Sempre venderam a ideia de que os agrotóxicos eram necessários para acabar com a fome. E a fome continua. Sempre disseram também que o agronegócio é mais eficaz. Pois a agricultura familiar tem uma produtividade por hectare três vezes maior que o agronegócio”.

Ele próprio agricultor familiar, no cultivo de café, Jasseir ainda lembra que a agricultura familiar é bem mais dinâmica. “Segundo o censo agropecuário do IBGE, as pequenas propriedades produzem 70% dos alimentos, emprega 70% dos trabalhadores no campo e com apenas 16% dos recursos disponibilizados pela União para a agricultura. Boa parte das terras do latifúndio é usada para mera especulação financeira”.

Na próxima semana, vamos publicar um novo texto sobre o debate promovido pela CUT, com a agroecologia como tema principal. O que já é feito nesse setor, os principais obstáculos e até mesmo onde encontrar alimentos orgânicos pelo Brasi

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