Retorno às salas gera medo e acende debate

Decreto do Governo do Paraná afeta profissionais de escolas estaduais, municipais e privadas de Maringá; críticas aos riscos do retorno presencial neste momento, além de termo a ser assinado, geram debates nas redes sociais

Volta às aulas presencialmente, em meio ao crescente número de casos de covid-19, gera críticas e mobilizações pelas redes sociais – Arquivo. Governo do Estado do Paraná

Viralizou desde esta sexta-feira (31/7), pelas redes sociais, um vídeo feito por professoras conselheiras municipais representantes do quadro do magistério na rede municipal de educação. No material de aproximadamente sete minutos, as profissionais de ensino discutem sobre os riscos que o retorno às aulas presenciais oferecem. No final de julho, o Governo do Paraná divulgou o protocolo para a volta do ano letivo a partir de setembro, mesmo em meio ao aumento do número de casos confirmados e mortos pela Covid-19.

Há várias semanas, empresários da educação iniciaram mobilização junto ao governo paranaense com o objetivo de pressionar o retorno presencial, independentemente da situação, ainda sem controle, da maior pandemia do século. Diante deste cenário, servidoras e servidores da educação de Maringá querem ampliar as discussões, inclusive com a sociedade, sobre os riscos à integridade física dos estudantes, funcionários e professores. Mobilizações semelhantes também tiveram início em outros municípios do Paraná e São Paulo.

Protocolo de Retorno

Com o retorno programado para daqui a um mês, o debate pelas redes sociais em Maringá levantou questionamentos em variados pontos do Protocolo publicado, definido pela Resolução Conjunta nº 01/2020, da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEED) e Casa Civil. A volta presencial, de forma escalonada com as videoaulas, é anunciada no momento em que o Paraná atinge 76 mil casos confirmados do novo coronavírus e se aproxima de 2 mil mortos. 

Em meio a todo debate, um vídeo de profissionais do ensino maringaense teve grande alcance através do Facebook e do WhatsApp. As informações repassadas também chamam a atenção para um estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas. Através de cálculos específicos, o retorno às aulas presenciais podem resultar em um aumento significativo dos casos de contaminados e mortos, podendo chegar até a 17 mil óbitos, especialmente entre crianças.

Em virtude destes riscos, o Protocolo de Retorno do Governo do Paraná disponibiliza, na última página, um “termo de compromisso com o protocolo de segurança do Covid-19”. Com tópicos para atestar a ciência de pais e responsáveis sobre as medidas de segurança, o termo gerou debates sobre se, em caso de adoecimento e morte, as instituições privadas e o Governo seriam responsabilizados. 

Assim sendo, a categoria chama a atenção dos responsáveis sobre a necessidade de participar do debate público e se manifestar frente ao descaso do Governo de Ratinho Jr (PSD), que envolverá escolas públicas estaduais, particulares e até mesmo as municipais, que não possuem sistema próprio de ensino.

No vídeo, uma professora questiona se cada um destes pais e responsáveis terá coragem de deixar os filhos em ensino presencial mesmo correndo risco de morte. O mesmo questionamento foi feito em pesquisa realizada em todo o Paraná, pelo portal da RPC. Na manhã deste sábado (1º), o resultado mostrou que quase 91% não pretendiam levar as crianças para o ensino presencial. O levantamento mostra que independente da pressão de empresários, a maioria absoluta da população não se sente segura. 

Em pesquisa de grande participação e abrangência estadual, 9 em cada 10 pais não se sentem seguros com o retorno presencial – Pesquisa RPC (01/08/2020)

Maringá

Em apoio à categoria desde o início das discussões, o SISMMAR entende que a medida do governo é uma decisão incoerente e inconsequente. Segundo o diretor da instituição, Gehélison Gomes, a inconsequência da ação fica ainda mais evidente no momento em que se envia um termo de compromisso para ser assinado, como se fosse o suficiente para garantir a integridade física de todos. O diretor também compreende que os conteúdos escolares poderão ser retomados no futuro, enquanto as vidas perdidas pela pandemia não. 

O SISMMAR cobra uma maior atenção do governo de Ulisses Maia (PSD) para que milhares de servidores de Maringá tenham o direito à vida respeitado. Pelo fato da rede municipal de educação não ter um sistema próprio de ensino, acaba por ficar refém de toda e qualquer decisão que seja tomada em nível estadual. Assim sendo, trabalhadoras e trabalhadores da rede do Estado, do município e de escolas particulares serão afetados pela medida. De início, servidores receberam por e-mail um documento com menção clara ao fato de que tanto o Estado, quanto as instituições privadas, não poderiam ser responsabilizados futuramente. Por conta de grandes mobilizações nas redes durante a manhã de hoje, um versão diferente foi apresentada, com o trecho retirado.

A gestão Sindicato é pra Lutar afirma que irá dar todo o suporte para a categoria neste momento, de forma a ampliar o debate que mobilize o grupo a manifestar o posicionamento contrário ao retorno presencial. Ainda que de maneira escalonada com o ensino remoto, os riscos de contágio permanecem elevados. Forçar a volta às aulas para milhares de estudantes e professores, os expondo ao vírus que já matou 93 mil brasileiros, é um ataque à toda sociedade. O SISMMAR se solidariza a luta e a resistência dos profissionais de todo o Estado.


Veja o vídeo com mais detalhes sobre a situação:

https://www.facebook.com/cme.magisterio.7/videos/153659069638582/

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